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Incidência de palometas no Rio Jacuí cresce e preocupa ainda mais

Órgãos públicos buscam solução para o problema, que já tem afetado os pescadores.

Jornal NT Sul


Por Thays Silva 07/05/2021 - 15h48

Rápida, voraz e insaciável. Essas são principais características da serrasalmus maculatus, a palometa ou piranha vermelha. A infestação dessa espécie chegou com força em Cachoeira do Sul e já assombra pescadores de Rio Pardo, Vale Verde e General Câmara.

A rotina de revisar o material de pesca diariamente e trazer exemplares suficientes para a comercialização, se tornou um pesadelo para os pescadores. Hoje, os prejuízos passam de 80% para esses trabalhadores.

O pescador Hélio Barbosa, morador da Rua Moron, nunca presenciou uma situação semelhante em anos. Ele diz que está praticamente impossível pescar com redes e espinhéis, equipamentos essenciais para a captura em larga escala.

Apontando para alguns pontos do rio, Hélio conta: “A gente bota o espinhél ali, elas comem o peixe, bota mais pra cima, elas comem o peixe, bota aqui (aponta para mais perto), como eu botei essa noite, elas comem também.”

Ele mostra carcaças de peixes e completa: “o que sobra é isso. Essa noite foram quatro. Tem noite que são 20”.

Hélio conta ainda que já pescou palometa. “O pessoal pega de linha. Nós pescamos a vida inteira aqui e eu não tinha pegado uma. Hoje, por acaso, caiu”, diz ele.

A Colônia de Pescadores, representação legal da classe, também está ciente dessa invasão biológica. Sem uma estratégia precisa para combater essa proliferação, a saída da categoria foi recorrer aos meios governamentais.

“Já estamos com vários projetos encaminhados ao Governo e prefeitura. O Oscar [Sartório] e o Alex [da farmácia – vereador] já estão de posse do material. A gente vem fazendo várias investidas. O que vai acontecer é que nós vamos ter que ver algum meio através dos órgãos governamentais para que o pescador comece a ter mais cuidado com o que ele está pescando”, diz Aldomar Masquerano, presidente da Colônia de Pescadores de Cachoeira do Sul.

A situação se agravou tanto que a discussão saiu das margens do rio e foi parar dentro da Assembleia Legislativa nesta quinta-feira (6). Comissão de Agricultura, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Ibama, universidades e pescadores discutiram algumas medidas que possam contribuir para o regresso da espécie e a manutenção da atividade pesqueira.

O presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Pesca, Adolfo Brito, explica que resolver a questão será difícil. “Vamos ter bastante dificuldade. Vai precisar de estudos e a participação das universidades vai ser importante, assim como Secretaria do Meio Ambiente e também Ibama. Ao final ficou definido um grupo de trabalho sendo dirigido pela SEMA”, diz.

Brito explica ainda que são necessários recursos para o andamento do trabalho. “Esse grupo de trabalho vai precisar de recursos para pesquisa porque nós temos um problema: não é apenas jogar o dourado para dentro do rio e solucionar. Isso vai depender de estudos técnicos, inclusive colocação de novas espécies no rio, e também trancar os locais de invasão. Essas palometas estão vindo da região do Rio Uruguai”, relata.

Ele relata ainda que a solução pode demorar: “Não será uma solução momentânea. É uma coisa que vai depender de estudos e, com certeza, vai levar um bom tempo até a gente fazer a recuperação dos rios no Rio Grande do Sul”, finaliza.

Ninguém sabe como as palometas infestaram os rios e lagoas do estado. Pesquisadores especulam que os peixes chegaram por tubulações usadas para irrigar lavouras próximas aos rios Vacacaí e Ibicuí, onde se encontram as bacias do Uruguai e do Jacuí.

Aos poucos, as piranhas foram se reproduzindo e aumentando a população nesses ambientes. Biólogos acreditam que uma palometa fêmea pode desovar 5 mil ovas. Até o momento, o Ibama não tem uma medida específica para acabar com a linhagem.

“Para qualquer medida que vá se tomar, a gente precisa saber qual é a extensão do cenário. E a gente também precisa descobrir de que forma esses animais passaram para evitar que, eventualmente, outras espécies passem. A palometa não é a primeira espécie que passa, mas é a primeira que chamou atenção pelas suas características”, explica Maurício Vieira de Souza, analista ambiental do Ibama.

Conhecida como a recicladora dos rios, a palometa já é conhecida no estado. Em Rosário do Sul, houve relatos de ataques de palometas no Rio Santa Maria, na praia das areias brancas. O número de pessoas atacadas foi superior a 40. Em alguns casos, os banhistas precisaram procurar atendimento médico.

Maurício garante que naturalmente o ambiente vai se adaptando com a nova espécie. Ele compara o peixe com outras invasões conhecidas do povo gaúcho.

“É uma invasão biológica nova, então, nesse primeiro momento, a gente vê que ela está em uma super expansão, aparentemente. Mas, com o tempo, ela tende a chegar em uma queda, um novo equilíbrio. Sempre vai ter a palometa. É provável que seja essa a resposta” explica Souza.

“A gente tem outro animal invasor, que é o javali. Está no ambiente terrestre e já é difícil porque não tem como identificar todos os locais onde eles estão. Ou uma planta que é uma invasora, como o capim annoni, que está aqui no estado há uns 50 anos e a gente não consegue eliminar. Imagina a dificuldade que a gente tem no ambiente aquático para exterminar. Não tem casos similares, em nenhum outro lugar, que se tenha conseguido fazer esse extermínio” finaliza Maurício.

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