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Cega há 10 anos, Gislaine encontra paixão e supera desafios

Ao começar a perder a visão, ela ganhou miçangas de presente para se distrair. A habilidade deixa clara a paixão dela pela atividade.

Jornal NT Sul


Por Thays Silva 06/05/2021 - 16h55

Uma mão sustenta o fio. A outra conduz uma miçanga de cada vez e todas são passadas por um minúsculo fio. Para a maioria das pessoas, uma coisa simples de ver e de se fazer. Para a Gislaine também é algo simples de fazer, mesmo sem a visão. Parece que ela tem os olhos nas pontas dos dedos enquanto confecciona pulseirinhas com as miçangas.

Gislaine de Carvalho trabalhava como faxineira, mas precisou parar quando, há cerca de 10 anos, aos poucos foi perdendo a visão por causa de um glaucoma. Para que ela se distraísse, o marido Jonatas lhe deu de presente miçangas e um fio de silicone. Foi aí que ela descobriu uma nova paixão e ocupação que funciona como verdadeira terapia.

“Agora eu seu o que é uma pessoa com deficiência. A gente não é inútil. As pessoas pensam que a gente é inútil, mas nós não somos”, relata Gislaine.

Ela fala também de como é grata por grandes bênçãos, como a vida. “Só de levantar vivo… a vida que Deus dá pra gente já é grande coisa pra ser feliz. A família, as pessoas que gostam da gente, que dão atenção e amor e ajudam a gente a superar”, conta.

O Jonatas trabalhava como pedreiro. Quando perdeu o emprego, ele olhou para o lado, se motivou com a esposa, viu uma oportunidade e foi, então, que os dedos calejados se adaptaram à delicadeza das miçangas e fios. Ele também aprendeu a fazer pulseiras, mandalas e chaveiros, que são vendidos e ajudam no orçamento da casa.

Jonatas fala de como a adaptação a esta arte foi difícil no início. “Foi horrível. Uma pedrinha pequenininhas, umas pedrinhas grossas”, diz. Ele conta que pensou que não conseguiria. “Isso aí não é pra mim”, relembra. E conta mais: “Aí eu comecei… que coisa difícil. Fui tentando, tentando, até que consegui”.

O casal é conhecido na zona norte de Cachoeira do Sul, por onde circulam com os artesanatos. Muitas pessoas compram.

Gislaine se autodeclara uma pessoa feliz, apesar da deficiência, mas admite que fica triste quando alguém duvida que ela seja capaz de produzir as pulseirinhas por não enxergar. Faz questão de afirmar que cada peça que produz tem um indispensável componente, além do fio e das miçangas.

“Tem bastante amor e carinho porque a gente tem que dedicar amor e carinho pras coisas que faz”, diz.

Enquanto conversava com a repórter Lena Caetano, Gislaine finalizou uma pulseira. É possível ver a felicidade em seu rosto ao terminar o trabalho. E o marido comenta: “tá bonito”.

Quando Lena pergunta do seu sentimento ao terminar cada trabalho, ela diz: “alegria e amor. Felicidade de poder superar”. Ela diz que a atividade a “ajudou a superar muito”.

Gislaine fala de como se sentiu logo que perdeu a visão: “Não adiantava eu me desesperar. Pra que me desesperar se todos os dias Deus me dava vida pra eu levantar viva? Por que me desesperar se tem gente pior e que está vivendo? Quem tem olho, tem que aproveitar. Quem tem pé, não pode se queixar. Tem mão, não pode se queixar. Pra que se queixar?”

No final, faz uma surpresa e entrega a pulseira feita durante a entrevista para Lena.

A repórter relata que, através do mimo que ganhou da Gislaine, percebeu que esta senhora de 55 anos de idade, mesmo cega mantém o ânimo, alegria e a fé porque consegue colocar no que faz aquilo que transborda no coração. Algo que ela não cansa de repetir e isso nem a falta de visão impede. “Isso aqui eu faço com bastante amor e carinho”.

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