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Semelhanças e Diferenças na Privatizacão do PT, por Stephen Kanitz


Por marciobasso 14/02/2012 - 15h18

 
Quanta besteira está sendo dita com relação às concessões dos Aeroportos pela Dilma.
É de assustar a falta de conhecimento de pessoas importantes que participaram do Governo e que revelam que não entenderam o que fizeram.
O PT aprimorou em várias coisas que critiquei no passado sobre a privatização tucana1, e melhorou o processo.
Vejamos as diferenças com o PSDB.
1. O PT “privatizou” por 40 anos a administração de aeroportos que eram 100% estatais. Dizer que foi uma concessão de 40 anos não é um argumento tão forte assim.
A grande diferença é que o PSDB “privatizou” a Vale e a Telebras que nem eram Estatais. 
83% do capital da Vale e Telebras já era privado.
Fruto de abertura de capital ao setor privado destas duas empresas, mas que ditatorialmente as ações PN eram recusadas do direito a voto e tag along.
Hipocrisia estatal. Quero seu dinheiro, mas cale a boca.
2. O PT “obrigou” o investidor a comprar 51% da empresa, o bloco de controle.
O PSDB vendeu o “bloco de controle” de  somente 17% da Vale e Telebras a um grupo minoritário, de amigos da casa. Era de fato um bloco “controlador” porque 83% não tinha direito de voto.
No caso da Vale, Fernando Henrique Cardoso ligou para o Benjamin Steinbruck pedindo que fizesse número, porque até aquele dia só o Antonio Ermírio havia se interessado.
Faltou obviamente planejamento, porque leilão de um daria o que falar.
No caso da telefonia, um desconhecido maior ainda – Daniel Dantas, acabou levando uma das empresas “controlando” 100% da empresa de telefonia com menos de 1% da ações.
Bem diferente do que ocorreu com a privatização do PT que o comprador de fato comprou 51% da empresa, mesmo que em prestações.
Dantas conseguiu controlar com 1% graças a uma engenharia econômica de holding acima de holdings, empréstimos e acordos de acionistas. Foi muito esperto, por sinal. 
Neste sentido o PSDB de fato “privatizou”, permitindo enormes empresas estatais na mão de um único indivíduo desconhecido, ao invés de democratizar o capital, pulverizando o capital entre milhares de acionistas.
Como rezava a Lei da Desestatização, que merece ser relida.
Eu não teria “privatizado”, e sim mantido os 17% e dado a administração para os 83% dos majoritários, o que seria eticamente correto, dando o direito de voto.
Ou registrando as empresas no Novo Mercado que ajudei a criar, sem precisar de leilões.
Neste sentido, a privatização dos aeroportos do PT foi superior à do PSDB.
O PSDB é que deveria aprender com o PT, e não o contrário como escreveram FHC, Globo e Pedro Malan.
3. O edital exigia experiência comprovada na área de aeroportos. (Pode-se discutir quão experiente de fato são os ganhadores.)
Mas no caso do PSDB, as empresas foram entregues para pessoas físicas, declaradamente sem nenhuma experiência no setor.
Daniel Dantas era até aquela data desconhecido gestor de um fundo de investimento, não de uma empresa de telefonia.
Benjamin Steinbruck era do setor metalúrgico, e teve duas semanas para montar a sua oferta de compra e estudar sobre o setor.
4. Na privatização do PT, o Governo ficou com 49% da empresa com o objetivo de surfar a melhoria administrativa que deverá ocorrer, podendo vender daqui a cinco anos os 49% por um valor ainda maior.
O PSDB vendeu tudo e não aproveitou dos ganhos de eficiência administrativa que foram colossais, o que levou a acusações de que o PSDB vendeu barato. 
Neste sentido o PT estará calçado, se vendeu barato, o que não parece, pelo menos poderá recuperar na venda dos 49% restantes.
Vejamos agora as semelhanças:
1. Ambos os partidos são ideologicamente contra privatizações.
O PT não se “converteu” ao PSDB, porque nem o PSDB era convertido.
Quem é ideologicamente a favor da privatização jamais usaria o termo privatização.
Usaria o termo desestatização, termo inclusive usado na Lei da Desestatização, que rege o processo.
O PT e o PSDB só desestatizaram porque precisavam de caixa, ou porque não tinham caixa para fornecer 200 milhões de celulares ou ampliar os aeroportos vendidos.
A maior prova disto é que foi Collor quem criou o Programa Nacional de Desestatização (PND), usando o termo com o qual ele era ideologicamente alinhado. 
Não para fazer caixa para o seu Governo, mas para acabar com a indicação política de gestores, a corrupção nos departamentos de compras e investimentos, a falta de auditoria e governância, o fim do controle de uma empresa negando direito de voto a 83% dos acionistas, incompatível com democracia.
3. Ambos, o PSDB e PT, deixam claro que poderão voltar atrás, já que “privatizar” dentro do ideário coletivo é favorecer alguém em detrimento da sociedade. 
O próprio PT deixa isto claro ao usar o termo concessão. Depois da melhoria administrativa, os aeroportos voltarão para o Estado.
3. Ambos, PT e PSDB, venderam o que já existe para fazer caixa. 
Mas o que o Brasil precisa é de 25 novos aeroportos em cidades que ainda não os têm. Precisamos de novas estradas e novas siderúrgicas.
Ao vender o que já existe, o PT e o PSDB retiram da sociedade justamente os recursos que existiam para investir em novos aeroportos, para serem investidos nos que já existem.
O PT neste caso retirou 25 bilhões, que NÃO mais serão usados para contruir 25 novos aeroportos no Brasil.
Um novo aeroporto em cidades médias custaria no máximo 1 bilhão cada, e de fato desenvolveria o Brasil. 
É o que eu teria feito, desenvolvimentista que sou.
Preferiria manter os três aeroportos na mão do Estado, mesmo continuando a serem mal administrados, para poder usar os 25 bilhões que o setor privado dispunha para criar 25 aeroportos novos e desenvolver o país fora do eixo São Paulo – Brasília.
Existem tantos recursos assim para investir em aeroportos no Brasil? Não.
Alguém comentou sobre os 25 aeroportos que agora não serão construídos?
Stephen Kanitz
Fonte: http://is.gd/CGXjIH