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Oscar Schindler de Pernambuco salvou mais de 30 pessoas das enchentes


Por Heron Santana 07/07/2010 - 06h21

Apoiado pela esposa, Heleno refugiou quase 30 pessoas em sua casa

Os judeus tiveram o socorro de Oscar Schindler, o empresário alemão que se notabilizou por ter salvo 1,2 mil trabalhadores do Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.
O herói ruandês foi Paul Rusesabagina, gerente comercial que usou o hotel em que trabalhava para refugiar 800 pessoas, durante o conflito tribal que provocou o Genocídio de Ruanda, em 1994.
Ambos tiveram cinebiografias contando seus feitos humanitários. A vida do líder comunitário Heleno João da Silva também daria um filme. Para as vítimas das enchentes ocorridas na Zona da Mata Sul de Pernambuco, ele se tornou uma espécie de “Oscar Schindler”pernambucano.
Heleno é cego e preside a Associação das Pessoas com Deficiência de Água Preta, município próximo à divisa com Alagoas duramente castigado pelas chuvas de duas semanas atrás. A limitação física, entretanto, não impediu que ele abrisse sua casa para salvar quase 30 pessoas que seriam arrastadas pela força da correnteza que arrebentou casas, prédios públicos, escolas e comércio, e levou a cidade a viver dias de calamidade pública.
Muitos dos refugiados são vizinhos de Heleno. Com a ajuda da esposa, Maria Rosineide da Silva, conhecida como Rosinha, ele conseguiu levar as pessoas para a sua residência. Parte dos socorridos perdeu por completo a casa e tudo o que possuía.
Coube a Rosinha preparar comida e cuidar dos hóspedes acidentais do jeito que podia. Com a tragédia atingindo um número maior de pessoas, Heleno tomou a decisão de abrigar vítimas também na sede da Associação.
Com a chegada de um grupo de emergência ligado a ADRA, uma agência humanitária internacional, Rosinha se cadastrou como voluntária e conseguiu colocar seus próprios refugiados para serem atendidos pelos ativistas. Ela passou a cozinhar para cerca de 200 pessoas, preparando 400 refeições diárias.
“O sentimento é gratificante demais; estou vivendo, na prática,  a experiência do amor cristão”, disse Heleno, lamentando a tragédia que afetou sua cidade e região. Rosinha também mostrou pesar com a destruição, mas a dor é minimizada ao sentir-se útil, fazendo a diferença na vida das pessoas. “Ando na rua e às vezes as pessoas vêm até mim e dizem: ‘Rosinha, eu não estou passando fome porque estou recebendo a comida que você faz na Associação’”, observou. Isso vem lhe dando forças para superar o trauma provocado pelo drama das águas.
Por Heron Santana, de Água Preta, PE