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Número de fumantes caiu 45% no Brasil


Por marciobasso 30/08/2010 - 17h02

Em 1989, 33% dos brasileiros maiores de 18 anos fumavam, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer). Hoje essa proporção é de 18%, concluiu a Pesquisa Especial de Tabagismo divulgada hoje pelo instituto. A queda foi de 45%.
A pesquisa, realizada a partir de 2008, entrevistou 39.425 brasileiros com mais de 15 anos. Desses, 17,5% fumam. Outros 13 países estão realizando a mesma pesquisa, mas nem todos divulgaram dados _a pesquisa mundial termina em outubro.
Na América, a pesquisa também incluiu o Uruguai, onde 25% da população com mais de 15 anos fuma, e o México, onde o número de fumantes a partir dessa idade é menor do que no Brasil: 15,9%.
“Já conseguimos reduzir bastante o número de fumantes, mas precisamos continuar a briga. A indústria do tabaco primeiro focou as mulheres, e o resultado já pode ser constatado: o número de mulheres que começa a fumar antes dos 15 anos é 22% maior do que a dos homens, segundo a pesquisa. Agora, o foco da indústria são os jovens. Essa é a principal faixa etária em que devemos trabalhar, porque é a idade em que é mais fácil abandonar o vício, também”, diz Liz Maria de Almeida, gerente da Divisão de Epidemiologia do Inca e responsável pela apresentação da pesquisa, hoje, na sede do instituto, no Rio.
MULHERES COMEÇAM A FUMA ANTES QUE HOMENS
Os dados da pesquisa ainda mostram que a proporção de jovens do sexo feminino que começa a fumar antes dos 15 anos é 22% maior do que a dos homens, em todas as regiões do país.
Segundo o Inca, a geração de brasileiros nascidos a partir da década de 80 –ou seja, que hoje tem até 30 anos–, começa a fumar aos 17 anos, em média. No Nordeste e no Centro-Oeste, a proporção de jovens que começa a fumar antes dos 15 anos é maior do que nas outras regiões.
Os jovens são a parcela da população que menos procurou algum tipo de ajuda para deixar de fumar, de acordo com o estudo, apesar de 48% das pessoas dessa faixa etária terem relatado pelo menos uma tentativa de parar de fumar nos últimos 12 meses.
Entre os jovens, chama a atenção o fato de os homens fumarem 2,5 vezes mais do que as mulheres. Entre as outras faixas etárias da população essa proporção é menor. Uma das explicações para isso é o fato de que as mulheres param de fumar numa proporção duas vezes maior do que a dos homens.
A pesquisa ainda constatou que os jovens são mais sensíveis à propaganda pró-tabaco do que os adultos –48,6% dos jovens relataram ter percebido propaganda pró-tabaco ante 38,7% dos adultos.
Esse resultado pode indicar que existe um esforço da indústria para atingir os indivíduos com 24 anos de idade ou menos nas ações de promoção e propaganda de produtos do tabaco. Isso fortalece a necessidade de criar estratégias de informação sobre controle do tabaco junto aos jovens por meio de formatos e conteúdos diversificados.
A pesquisa mostrou que o nível de dependência severa de nicotina dos jovens foi 50% menor do que a dos adultos. Isso mostra a importância do estímulo à cessação entre essa população, e principalmente da prevenção, para evitar que comecem a fumar.
O nível de dependência foi medido na PETab por meio de duas perguntas: o número de cigarros fumados por dia e o tempo que a pessoa leva para acender o primeiro cigarro após acordar. O cruzamento dessas respostas determina o nível de dependência, que pode ser baixa, elevada ou moderada.
FUMANTES GASTA CERCA DE R$ 1.500 EM CIGARRO POR ANO
Além de prejudicar a saúde, o cigarro causa forte impacto no orçamento doméstico. Dados da PETab revelaram que uma família composta por um casal de fumantes, entre 45 e 64 anos, residente em uma cidade do Sudeste do país gasta, por mês, R$ 128,60 somente com a compra de cigarros. Por ano, a despesa chega a R$ 1.543,20.
O gasto com cigarro para um casal de fumantes de qualquer região do país chega a R$ 1.495,20 por ano. Todos os valores foram calculados com base em 2008. Naquele ano, o valor do salário mínimo era R$ 415,00, o que levaria esse gasto com cigarro a quase quatro salários mínimos por ano.
O valor gasto pelo casal do Sudeste com cigarro seria suficiente para comprar hoje, agosto de 2010, uma TV de LCD de 32 polegadas (R$ 1.469,00, preço médio), um computador (R$ 1.300,00), ou uma geladeira duplex (R$ 1.400,00), segundo o estudo.
A PETab revelou ainda que o gasto médio mensal com cigarros industrializados de fumantes acima dos 15 anos no Brasil foi de R$ 55,50.
Considerando o preço médio do cigarro no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e o salário mínimo de setembro de 2008, era possível para um fumante de baixa renda comprar 150 maços ao mês, contra 83 maços, em 1996, e 112 maços, em janeiro de 2003. Ou seja, com o passar do tempo, ficou mais fácil para pessoas de baixa renda comprarem mais maços de cigarros.
BRASILEIROS COM MENOR RENDA FUMAM MAIS
O estudo indica que os brasileiros com menor renda fumam mais. Segundo os dados da PETab, os maiores percentuais de fumantes no Brasil, entre ambos os sexos, foram encontrados na população sem instrução (25,7%) e entre as pessoas de menor renda (21,3%), o que corresponde à população que ganhava menos de meio salário mínimo por mês.
A análise dos dados da PETab foi realizada como parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2008, do IBGE, e tem por objetivo fornecer informações para subsidiar a política nacional de controle do tabaco.
A pesquisa foi feita em 51.011 domicílios, entrevistando fumantes, não fumantes e ex-fumantes. O trabalho foi realizado em outros 13 países. Internacionalmente, é conhecido como Global Adult Tobacco Survey (Pesquisa Global de Tabagismo).
Apesar da queda no consumo de tabaco nas últimas décadas, o número de fumantes no país ainda é elevado: cerca de 25 milhões com idade igual ou superior a 15 anos. Contudo, 45,6% dos fumantes tentaram parar de fumar nos últimos 12 meses, o que corresponde a cerca de 12 milhões de pessoas.
A PETab confirmou a urgência de reforçar as recomendações da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, um tratado de saúde pública, ratificado por 168 países-membros da OMS (Organização Mundial de Saúde), de um total de 192. Entre outras coisas, o texto determina ações específicas de proteção ao tabagismo passivo.
A pesquisa ainda apontou que uma em cada cinco pessoas foi exposta à fumaça do cigarro em locais públicos em geral. Isso correspondeu a cerca de 26 milhões de pessoas, das quais 22 milhões eram não fumantes. Os jovens foram mais 10% expostos ao fumo passivo em locais públicos do que os adultos, totalizando 6,2 milhões de jovens.
“É preciso que a legislação em vigor, que ainda permite fumódromos, seja alterada para impedir 100% o uso de produtos do tabaco que emitem fumaça em ambientes coletivos e fechados”, alerta Liz Maria de Almeida, gerente de Divisão de Epidemiologia do Inca.