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Mineiros se preparam para a fama


Por marciobasso 14/10/2010 - 12h43

Após mais de dois meses isolados a quase 700 metros de profundidade, os 33 mineiros resgatados com sucesso no Chile passam agora por exames médicos para avaliar sua condição atual de saúde e preparam-se para enfrentar o status de celebridades mundiais.
Resgatados após 22 horas de trabalho ininterrupto, a maioria repousa em hospitais de Copiapó, onde se recuperam dos mais de dois meses de reclusão.
Alguns têm cáries e ao menos um foi diagnosticado com pneumonia, mas em geral o estado dos trabalhadores é muito positivo.
O ministro da Saúde chileno, Jaime Mañalich, informou nesta quinta-feira que alguns devem ter alta antecipada, devido ao bom estado de saúde.
Enquanto isso, indicações da fama internacional que os 33 já atingiram não param.
Homenagens e saudações de diversos chefes de Estado já foram recebidas. Presidentes dos Estados Unidos, Brasil, México e Rússia se manifestaram, e até um filme deve ser produzido sobre a história.
O longa-metragem já tem nome. “Los 33”, disse o diretor Rodrigo Ortúzar, “é uma grande história para se contar”.
O artista antecipou que o filme será “uma mistura de ficção e imagens já gravadas” por emissoras de TV do país e por sua equipe. O cineasta está registrando imagens das operações de resgate em pleno deserto de Atacama.
“Minha ideia é fazer uma história que esteja focada no soterramento e, ao mesmo tempo, no renascimento dos mineiros quando eles voltarem à superfície”, explicou.
PRESENTES E OFERTAS
Esses trabalhadores outrora anônimos agora são tratados como celebridades. Real Madrid e Manchester United, por exemplo, já convidaram os trabalhadores para ver os times jogarem na Europa. Um cantor e empresário local resolveu dar 10 mil dólares a cada um deles; Steve Jobs, da Apple, mandou um iPod último tipo para todos, e uma empresa grega ofereceu uma excursão pelas ilhas do Mediterrâneo.
Com a possibilidade de assinarem contratos para transformar a experiência em livros e filmes, poucos dos trabalhadores devem voltar às minas.
EUFORIA E PATRIOTISMO
Em cidades de todo o país, buzinas, gritos e sinos celebraram o resgate do último dos mineiros. No acampamento Esperanza, onde os parentes dos mineiros passaram as últimas semanas, lágrimas e risos se misturavam.
A conclusão do resgate gerou euforia no Chile. Os mineiros, recordistas mundiais de sobrevivência subterrânea, foram saudados como heróis nacionais e desencadearam uma onda de patriotismo, num país que ainda se recupera de um devastador terremoto em fevereiro.
A popularidade do presidente Sebastián Piñera também disparou por causa da bem-sucedida operação. Ele esteve na mina San José recepcionando vários dos trabalhadores que subiam, e ainda pretende receber todos eles no Palácio de la Moneda, em Santiago.
SUCESSO DA OPERAÇÃO
Foram 69 dias de reclusão a 622 metros de profundidade –17 dias sem que o mundo lá fora soubesse se estavam vivos ou mortos. Após quase 23 horas de esforços, o Chile entra para a história nesta quarta-feira com uma operação de resgate sem precedentes, e os 33 mineiros ganham a atenção do mundo, num misto de heróis com celebridades.
E em pouco mais de 25 horas no total, os seis socorristas enviados para ajudar os mineiros também foram içados de volta à superfície.
Florencio Ávalos entrou para a história como o primeiro mineiro a sair da mina, à 0h11. Igrejas de todo o país badalaram seus sinos para comemorar, atendendo a uma sugestão do presidente Sebastíán Piñera. O último a sair foi Luis Urzúa. Ele exerceu a função de líder, e foi o primeiro mineiro a conversar com as autoridades.
Todos os mineiros são levados de maca para um hospital de campanha montado ao lado do poço, e de lá para um centro médico na cidade de Copiapó. Em geral, apresentam boas condições de saúde. Somente um apresentava um quadro de pneumonia e estava sendo tratado com antibióticos, disse a jornalistas o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.
Em 5 de agosto, a estrutura da mina San José cedeu, e deixou os 33 mineiros presos a mais de 600 metros de profundidade. O incidente na pequena mina de cobre e ouro no norte do Chile colocou a cidade de Copiapó (800 km ao norte de Santiago) no mapa do mundo.
Foi só em 22 de agosto, quando a esperança de encontrar sobreviventes já era ínfima, que funcionários da equipe de resgate ouviram batidas na máquina perfuradora que tentava encontrar os mineiros. Com poucas palavras, eles mandaram um recado: “Os 33 de nós no abrigo estão bem”, dizia um bilhete colado à máquina.
Todos os mineiros foram recebidos na superfície com aplausos e gritos de guerra –“Chi-chi-chi-le-le-le”– pelos milhares de familiares, jornalistas e curiosos que inundaram o acampamento Esperanza. A história de superação e sobrevivência chamou a atenção da mídia mundial. Cerca de 1.500 jornalistas estão no local para registrar os últimos acontecimentos do resgate, que foi transmitido ao vivo em todo o mundo.
Telões foram instalados em lugares públicos em todo o Chile para que o povo pudesse assistir e comemorar com a saída de cada um dos 32 chilenos e do boliviano. As igrejas em todo o país badalaram seus sinos para comemorar
O resgate bem-sucedido também foi um ponto positivo para a popularidade do presidente Sebastián Piñera, que esperou no local para abraçar a cada um dos mineiros na saída da cápsula Fênix, pintada em vermelho, azul e branco em homenagem às cores da bandeira chilena.
O governo brasileiro está acompanhando “com grande alegria” o resgate dos mineiros presos no Chile, informou o Itamaraty em comunicado.
Fonte: Folha de S.Paulo