Internet abriga debate histórico entre candidatos à Presidência
Por marciobasso 18/08/2010 - 21h51
Histórico. Esta foi a palavra utilizada por Fernando Rodrigues para definir o primeiro debate entre presidenciáveis transmitido ao vivo pela internet. O jornalista do Grupo Folha e mediador do debate destacou que “daqui a muitos anos, quem transmitiu, quem participou deste momento histórico vai se lembrar”.
O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, revelou que os “assessores dos candidatos colocaram muitos empecilhos” para a realização do debate, talvez porque os concorrentes “não têm noção da audiência que eles estão atingindo” na rede. Dávila ainda explicou que o planejamento começou em agosto do ano passado.
O evento, organizado pela Folha de S.Paulo e pelo UOL, foi realizado nesta quarta-feira (18) no Tuca (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), que fica na zona oeste da capital paulistana. Ontem, a Folha já havia transmitido on-line o debate entre os candidatos ao governo do Estado de São Paulo.
Foram convidados os presidenciáveis com no mínimo 10% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha. Assim, participaram José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Dilma Rousseff (PT).
O debate on-line só aconteceu porque a lei eleitoral foi alterada no ano passado e agora contempla a internet na disputa política.
Com capacidade para cerca de 700 pessoas, o Tuca só não ficou lotado porque os assessores dos candidatos fizeram uma recomendação pedindo que os assentos não fossem tomados por completo. Faltavam 10 minutos para as 11 horas da manhã quando as regras foram dadas. Começava o debate, que nos primeiros três blocos (candidato pergunta para candidato) mais parecia um combate.
Boxe
Pugilato. Assim definiu Marina Silva o clima que pairou no segundo debate entre os presidenciáveis, ao menos entre Serra e Dilma. O frio que fazia na capital paulistana não arrefeceu o ânimo dos candidatos ao Planalto.
E era exatamente isso que Ana Carolina de Souza, recém formada em Relações Internacionais pela PUC, esperava. Antes do início, ela disse esperar um “debate um pouco mais quente daquele que eu vi na TV. Quero ver algo mais interessante”. “Gostaria de saber sobre política de educação, como o ProUni (Programa Universidade para Todos)”, revela Carolina.
E não era apenas Carolina que desejava abordar o tema. Dilma e Serra também queriam. Dilma tomou a iniciativa e dirigiu uma pergunta ao candidato tucano: “O partido do seu vice [Indio da Costa] entrou na Justiça para acabar com o ProUni. Se a Justiça aceitasse o pedido, como você explicaria essa atitude para 704 mil alunos que dependem do programa?”.
Serra, como em uma luta de boxe, contra-atacou o golpe recebido: “O DEM não entrou com processo para acabar com o ProUni. Foi uma questão de inconstitucionalidade, um aspecto, etc. Nem tem a ver com a minha posição, a do meu partido. O PT votou contra a Lei de Responsabilidade, o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). O que o PT já aprontou em matéria de ‘tanto pior melhor’, não tá escrito. Nunca quis perder tempo com isso em debates. Mas em matéria de ‘quanto pior melhor’, o PT foi campeão”.
Dilma reconheceu e disse: “Aprovamos o Plano Real, e, mais do que isso, levamos à frente e utilizamos de forma adequada”.
Espectadora
A partir daí, Dilma e Serra se digladiaram. Marina apenas assistia, como mais uma das espectadoras da plateia do Tuca, formada por assinantes do UOL e da Folha, profissionais da imprensa, políticos e personalidades, tais como Paulo Maluf, Netinho de Paula, Eduardo Suplicy, Geraldo Alckmin, Márcio Thomas Bastos, entre outros.
Marina se destacou apenas no tema da reforma política. Junto a Dilma, defendeu a realização de uma Constituinte para tratar do tema. Já Serra defendeu o voto por distrito. Assim, segundo ele, seria possível aos eleitores conhecerem mais de perto os candidatos e cobrarem as promessas feitas durante o período eleitoral.
Marina também se fez ouvir quando rebateu Dilma dizendo que o projeto de habitação “Minha Casa, Minha Vida” era muito mais que uma realização de Lula. Para ela, tanto esse programa quanto o Bolsa-Família são, na verdade, conquistas do povo brasileiro. A defensora do meio-ambiente ainda ressaltou que não se deve “infantilizar o Brasil”, em referência ao programa eleitoral petista, que faz alusão à Dilma como mãe, e à Lula como pai, do País.
Para Marina, sobraram ainda frases de efeito como esta: “A sociedade brasileira precisa, não de casca de ferida (referindo-se a uma citação de Lula), mas de um bálsamo para curar as mazelas” sociais, financeiras, etc.
Falando em Lula…
Mariangela Franco Coelho, mediadora de conflitos, veio para ver o desempenho de todos, mas especialmente de Dilma sem a “sombra” do presidente do País, Luiz Inácio Lula da Silva.
A conciliadora não deve ter ficado muito satisfeita, pois até o terceiro bloco Dilma citou Lula em quase todas as suas alocuções.
Outros dois blocos foram realizados com perguntas de internautas e um último com questões formuladas por jornalistas da Folha e do UOL.
A última pergunta, de Rodrigo Flores (UOL), sobre a saúde de Dilma, não agradou os que esperavam algo mais consistente. Quando questionado sobre a questão, Flores disse que outros temas, como a “política externa já foram tratados na sabatina com os candidatos e no debate anterior (Rede Bandeirantes)”.
Opiniões
Para o gerente de logística, José Carlos, “o debate foi bem amistoso. Os candidatos se respeitando muito. Acho que eles falaram pouco do governo deles. Eles ficaram mais preocupados com o passado que com o futuro.”
A estudante de Direito da PUC, Camila Zanetti, teve opinião semelhante: “o debate foi bom e demonstrou bem o que os candidatos estão pensando na atualidade. Concordo com o que a Marina falou, de tratarem muito do passado e não pensarem no presente e no futuro”.
O senador Eduardo Suplicy (PT) comemorou o evento: “Felizmente hoje o Brasil viveu uma manhã de debate tão importante. Isso é bom para a democracia brasileira”.
Já o jornalista Josias de Souza acredita que a necessidade de votos tornou o debate mais animoso que o outro.
Para o jornalista da Rede Novo Tempo de Comunicação, André Leite, o evento foi “uma oportunidade a mais para as pessoas conhecerem os candidatos, porque o debate é a melhor forma de se obter isso.”
Sobre o objetivo da reportagem para o público da Novo Tempo, André diz que é importante “trazer uma informação diferenciada, pois o nosso público está afim de ser esclarecido não apenas em questões bíblicas, mas também em questões do nosso dia-a-dia. Então, por conta disso, eu acho extremamente relevante a presença do jornalismo da NT aqui”.
Para a repórter Mônica Iozzi, do programa CQC, a atração da Rede Bandeirantes “tenta ser imparcial, pegando no pé de todos os partidos e candidatos da mesma maneira”. A resposta de Iozzi se refere à maneira pela qual o programa ajuda o público jovem na hora de decidir em quem votar.
Casamento gay e outros temas
Normalmente, os candidatos tentam fugir de temas polêmicos. Serra foi mais rápido e saiu quase sem deixar rastro. Marina e Dilma não conseguiram. Debate terminado, entrevistas dadas, restava a porta dos fundos e a entrada em um luxuoso carro.
Mas um grupo de jovens estudantes da PUC não permitiu a saída da candidata do PT. Dilma demorou mais de 40 minutos para poder arrancar de vez, pois alguns jovens ficaram sentados no asfalto em frente ao seu carro. Após muito empurra-empurra e uma conversa com alguns “representantes” estudantis, Dilma finalmente pôde deixar o bairro das Perdizes.
Indagada pelo motivo do ato, a estudante de Administração da PUC, Lígia Acatauaçu, disse que apenas desejava conversar com os candidatos e expor a indignação que sente, entre outras coisas, pela má aplicação do dinheiro público. Disse que sentia pena daqueles que não tinham a mesma sorte que ela, de poder estudar em uma boa escola.
Outro tema que Dilma e Marina não puderam fugir foi o casamento gay. Um grupo de cerca de oito pessoas conversou rapidamente com as candidatas. Eles desejam a aprovação do matrimônio civil entre pessoas do mesmo sexo.
Polida, com voz mansa e gestos delicados, Marina Silva (PV) disse que “por objeção de consciência” e “convicção” não poderia apoiar o casamento gay. “É uma questão de consciência. Para mim, o casamento é um sacramento”, ressaltou a candidata do Partido Verde.
Contudo, segundo um jovem estudante de economia da PUC, o candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante (PT), disse ter sinalizado de forma positiva para a aprovação. A Dilma também “fez sinal de positivo quando eu perguntei sobre o casamento gay”, ressaltou o jovem.
Márcio Basso e André Leite, enviados especiais do Portal CNTN.
E era exatamente isso que Ana Carolina de Souza, recém formada em Relações Internacionais pela PUC, esperava. Antes do início, ela disse esperar um “debate um pouco mais quente daquele que eu vi na TV. Quero ver algo mais interessante”. “Gostaria de saber sobre política de educação, como o ProUni (Programa Universidade para Todos)”, revela Carolina.
E não era apenas Carolina que desejava abordar o tema. Dilma e Serra também queriam. Dilma tomou a iniciativa e dirigiu uma pergunta ao candidato tucano: “O partido do seu vice [Indio da Costa] entrou na Justiça para acabar com o ProUni. Se a Justiça aceitasse o pedido, como você explicaria essa atitude para 704 mil alunos que dependem do programa?”.
Serra, como em uma luta de boxe, contra-atacou o golpe recebido: “O DEM não entrou com processo para acabar com o ProUni. Foi uma questão de inconstitucionalidade, um aspecto, etc. Nem tem a ver com a minha posição, a do meu partido. O PT votou contra a Lei de Responsabilidade, o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). O que o PT já aprontou em matéria de ‘tanto pior melhor’, não tá escrito. Nunca quis perder tempo com isso em debates. Mas em matéria de ‘quanto pior melhor’, o PT foi campeão”.
Dilma reconheceu e disse: “Aprovamos o Plano Real, e, mais do que isso, levamos à frente e utilizamos de forma adequada”.
Espectadora
A partir daí, Dilma e Serra se digladiaram. Marina apenas assistia, como mais uma das espectadoras da plateia do Tuca, formada por assinantes do UOL e da Folha, profissionais da imprensa, políticos e personalidades, tais como Paulo Maluf, Netinho de Paula, Eduardo Suplicy, Geraldo Alckmin, Márcio Thomas Bastos, entre outros.
Marina se destacou apenas no tema da reforma política. Junto a Dilma, defendeu a realização de uma Constituinte para tratar do tema. Já Serra defendeu o voto por distrito. Assim, segundo ele, seria possível aos eleitores conhecerem mais de perto os candidatos e cobrarem as promessas feitas durante o período eleitoral.
Marina também se fez ouvir quando rebateu Dilma dizendo que o projeto de habitação “Minha Casa, Minha Vida” era muito mais que uma realização de Lula. Para ela, tanto esse programa quanto o Bolsa-Família são, na verdade, conquistas do povo brasileiro. A defensora do meio-ambiente ainda ressaltou que não se deve “infantilizar o Brasil”, em referência ao programa eleitoral petista, que faz alusão à Dilma como mãe, e à Lula como pai, do País.
Para Marina, sobraram ainda frases de efeito como esta: “A sociedade brasileira precisa, não de casca de ferida (referindo-se a uma citação de Lula), mas de um bálsamo para curar as mazelas” sociais, financeiras, etc.
Falando em Lula…
Mariangela Franco Coelho, mediadora de conflitos, veio para ver o desempenho de todos, mas especialmente de Dilma sem a “sombra” do presidente do País, Luiz Inácio Lula da Silva.
A conciliadora não deve ter ficado muito satisfeita, pois até o terceiro bloco Dilma citou Lula em quase todas as suas alocuções.
Outros dois blocos foram realizados com perguntas de internautas e um último com questões formuladas por jornalistas da Folha e do UOL.
A última pergunta, de Rodrigo Flores (UOL), sobre a saúde de Dilma, não agradou os que esperavam algo mais consistente. Quando questionado sobre a questão, Flores disse que outros temas, como a “política externa já foram tratados na sabatina com os candidatos e no debate anterior (Rede Bandeirantes)”.
Opiniões
Para o gerente de logística, José Carlos, “o debate foi bem amistoso. Os candidatos se respeitando muito. Acho que eles falaram pouco do governo deles. Eles ficaram mais preocupados com o passado que com o futuro.”
A estudante de Direito da PUC, Camila Zanetti, teve opinião semelhante: “o debate foi bom e demonstrou bem o que os candidatos estão pensando na atualidade. Concordo com o que a Marina falou, de tratarem muito do passado e não pensarem no presente e no futuro”.
O senador Eduardo Suplicy (PT) comemorou o evento: “Felizmente hoje o Brasil viveu uma manhã de debate tão importante. Isso é bom para a democracia brasileira”.
Já o jornalista Josias de Souza acredita que a necessidade de votos tornou o debate mais animoso que o outro.
Para o jornalista da Rede Novo Tempo de Comunicação, André Leite, o evento foi “uma oportunidade a mais para as pessoas conhecerem os candidatos, porque o debate é a melhor forma de se obter isso.”
Sobre o objetivo da reportagem para o público da Novo Tempo, André diz que é importante “trazer uma informação diferenciada, pois o nosso público está afim de ser esclarecido não apenas em questões bíblicas, mas também em questões do nosso dia-a-dia. Então, por conta disso, eu acho extremamente relevante a presença do jornalismo da NT aqui”.
Para a repórter Mônica Iozzi, do programa CQC, a atração da Rede Bandeirantes “tenta ser imparcial, pegando no pé de todos os partidos e candidatos da mesma maneira”. A resposta de Iozzi se refere à maneira pela qual o programa ajuda o público jovem na hora de decidir em quem votar.
Casamento gay e outros temas
Normalmente, os candidatos tentam fugir de temas polêmicos. Serra foi mais rápido e saiu quase sem deixar rastro. Marina e Dilma não conseguiram. Debate terminado, entrevistas dadas, restava a porta dos fundos e a entrada em um luxuoso carro.
Mas um grupo de jovens estudantes da PUC não permitiu a saída da candidata do PT. Dilma demorou mais de 40 minutos para poder arrancar de vez, pois alguns jovens ficaram sentados no asfalto em frente ao seu carro. Após muito empurra-empurra e uma conversa com alguns “representantes” estudantis, Dilma finalmente pôde deixar o bairro das Perdizes.
Indagada pelo motivo do ato, a estudante de Administração da PUC, Lígia Acatauaçu, disse que apenas desejava conversar com os candidatos e expor a indignação que sente, entre outras coisas, pela má aplicação do dinheiro público. Disse que sentia pena daqueles que não tinham a mesma sorte que ela, de poder estudar em uma boa escola.
Outro tema que Dilma e Marina não puderam fugir foi o casamento gay. Um grupo de cerca de oito pessoas conversou rapidamente com as candidatas. Eles desejam a aprovação do matrimônio civil entre pessoas do mesmo sexo.
Polida, com voz mansa e gestos delicados, Marina Silva (PV) disse que “por objeção de consciência” e “convicção” não poderia apoiar o casamento gay. “É uma questão de consciência. Para mim, o casamento é um sacramento”, ressaltou a candidata do Partido Verde.
Contudo, segundo um jovem estudante de economia da PUC, o candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante (PT), disse ter sinalizado de forma positiva para a aprovação. A Dilma também “fez sinal de positivo quando eu perguntei sobre o casamento gay”, ressaltou o jovem.
Márcio Basso e André Leite, enviados especiais do Portal CNTN.