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Igrejas cumprem papel importante no combate à violência, dizem especialistas


Por marciobasso 24/08/2010 - 17h23

As igrejas desempenham um papel importante no combate à violência contra mulheres e crianças porque podem chegar a lugares onde nem sempre se verifica a presença de um médico, de um advogado, ou de outra ajuda especializada. A avaliação é do especialista em Direito de Família, Elizandro Sabino, que já atuou como conselheiro tutelar e coordenador geral do Conselho Tutelar em Porto Alegre. Ele foi um dos convidados do debate “Quebrando o Silêncio”, cuja proposta foi debater as causas e possíveis soluções para coibir a violência infanto-juvenil e contra a mulher. O debate aconteceu na Igreja Adventista da Floresta, em Porto Alegre, e foi mediado pelo locutor da rádio Novo Tempo FM 99,9, Tobias Souza.
A proposta de discutir o assunto com especialistas partiu da liderança regional do projeto Quebrando o Silêncio, coordenado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia e que há oito anos vem orientando a população quanto à temática, apoiando vítimas e oferecendo oportunidade de resgate para quem é agressor.
Na compreensão da psicóloga e investigadora do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca), Suzana Braun, também presente ao debate, informar a sociedade é uma condição determinante no processo de quebra de tabus e redução dos índices alarmantes de insegurança existentes no Brasil. “Nós precisamos educar a sociedade para que ela realmente quebre esse silêncio, o complô do silêncio que é muito cômodo para o agressor”, considera.

Foto: Márcio Tonetti


Em relação à violência contra a mulher, a coordenadora do Comitê Latino-Americano e do Caribe de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), Carmem Campos, entende que um dos mitos ainda muito comuns no País é o sentimento de culpa por parte da vítima, o que pode justamente levar a um sofrimento velado. “É importante que as mulheres não se sintam responsáveis pela violência que sofrem. Quem agride é que deve ser responsabilizado pelo seu comportamento. E esse programa que a Igreja Adventista leva adiante é uma das formas de quebrar tabus, desconstituir mitos e mudar a relação entre homens e mulheres”, analisa.
Denúncias
Fruto de uma sociedade que paulatinamente está mais disposta a falar, os registros de ligações contabilizados pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 apresentaram crescimento no primeiro semestre deste ano. No período de janeiro a junho de 2010 foram mais de 343 mil chamadas. O aumento foi de 112% em relação ao mesmo período do ano passado.
“As pessoas precisam saber que em caso de suspeita, de confirmação de maus-tratos, temos que denunciar; levar ao conhecimento do Conselho Tutelar, da Polícia Civil, da Polícia Militar, do Ministério Público, das organizações não-governamentais”, reforça a psicóloga do Deca.
Em casos de violência infantil, as denúncias podem ser feitas através do Disque 100.
Alarmantes         
Estudo da Fundação Perseu Abramo mostra que a cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil. Em solo gaúcho, os índices também preocupam. “Só no Estado foram mais de 12 mil processos tramitando na vara da violência doméstica. Isso é um número ainda subestimado porque nem todas as que sofrem agressão procuram a delegacia de polícia”, observa Carmem.
De maneira análoga, as estatísticas denunciam a expressividade de ocorrências envolvendo crianças no País. Segundo estudos da Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância (Sipani), 12% das 55,6 milhões de crianças menores de 14 anos são vítimas de alguma forma de violência doméstica por ano no Brasil.
Esses dados estatísticos, embora assustadores, podem servir de base para a elaboração de novas políticas públicas de proteção a mulheres e crianças, na visão da coordenadora do Cladem. “Se gente não tem a dimensão do problema, se não sabemos quantas mulheres são agredidas e onde elas estão, as políticas públicas não são bem direcionadas”, argumenta.
Márcio Tonetti