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Ensino a distância pode ser saída para qualificar pessoas com deficiência

Ensino convencional ainda não garante qualificação plena de pessoas com deficiêncica. Saída pode estar na tecnologia educacional.


Por ariannecastro 09/07/2010 - 11h14

Alunos deficientes visuais em curso para conclusão do Ensino Médio com EAD - Crédito: Mário Dáud

Alunos deficientes visuais em curso para conclusão do Ensino Médio através de EAD – Foto: Mário Dáud

Estatísticas oficiais governamentais mostram que, das 24 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil, quase metade está fora do mercado de trabalho. O motivo não é necessariamente a falta de vagas para estas pessoas nas empresas. Existe legislação federal que prevê a contratação de um determinado percentual de pessoas com deficiência em organizações com mais de cem empregados. Empregadores garantem que possuem interesse. O problema parece esbarrar na dificuldade de se identificar deficientes com qualificação para as oportunidades oferecidas. O assunto da profissionalização começa a ganhar mais força nos últimos dias junto aos governos. No Senado Federal, ocorreu recente audiência pública a respeito do tema e uma das alternativas parece estar na Educação a Distância (EAD).
Andréa Koppe, presidente da ONG Unilehu, em Curitiba, no Paraná, que trabalha há 5 anos e meio com desenvolvimento voltado à empregabilidade de pessoas nesta condição, admite que a parceria EAD e inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho não é uma realidade plena ainda. As estatísticas oficiais confirmam isso. Embora o setor de EAD tenha crescido 200% nos últimos quatro anos, conforme dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação a Distância, ele ainda não atende a demanda. Segundo o censo da Educação Superior de 2007, dos 300 mil alunos da graduação a distância, apenas 137 são portadores de necessidades especiais. Os maiores beneficiados são os portadores de baixa visão, que representam 38,68% do montante total. “O EAD ainda sofre de alguns estigmas, pelo fato de não ser presencial e parecer ser menos eficaz”, comenta Andréa. A líder da ONG explica, no entanto, que algumas vantagens do ensino a distância para a qualificação das pessoas com deficiência se sobressaem como: maior autonomia para a pessoa que faz o curso, já que não depende de acessibilidade a cursos presenciais e rapidez para conclusão dos cursos.
Os desafios técnicos e culturais existem e precisam ser superados. Para um curso de EAD atender ao que necessita uma pessoa com deficiência, é preciso mais do que apenas tecnologia. No caso dos deficientes visuais, por exemplo, além da audiodescrição de um filme e leitores de voz, os próprios profissionais que transmitem o conteúdo precisam saber como tornar acessível o material para quem não enxerga. Em relação aos deficientes auditivos, o conteúdo repassado através da Língua Brasileira de Sinais (LIBRA) exige dos monitores e educadores o respeito à cultura dos surdos. Helen Cândido, com formação em processamento de dados, comunicação social e administração, trabalha há dez anos aplicando recursos tecnológicos à educação. Na sua avaliação, a inclusão da tecnologia EAD para pessoas com deficiência pode favorecer o desenvolvimento não apenas dos alunos, mas de sua família também que passa a auxiliá-los nos estudos em casa. “Já tive a experiência com um usuário com deficiência visual, porém, o interessante é que ele não era o aluno, mas sim o pai que estava acompanhando a vida escolar do filho pela Internet e interagindo com o aluno em casa”, exemplifica.
Investimentos – Para Maximiliana Ferraz, pedagoga, especialista em informática na educação e gestao escolar e mestre em educação, uma maior aproximação entre EAD e qualificação de pessoas com deficiência deve passar necessariamente, também, por investimentos financeiros para disseminação das tecnologias, além de formação docente específica. Outro ponto que ela levanta é a necessidade de as pessoas com deficiência saberem que possuem os mesmos direitos, tanto sendo alunos de EAD, quanto de ensino presencial. Ou seja, podem requerer prova aumentada, acompanhamento, entre outros recursos. A especialista comenta, ainda, que a EAD brasileiro está “em pleno desenvolvimento e crescimento de acesso à população e que o Governo tem incentivado essa modalidade”, o que faz com que esboce otimismo quanto ao futuro.
O futuro, portanto, parece ser promissor nesta relação entre ensino a distância e pessoas com deficiência. Os ajustes precisam ser feitos, mas quem já trabalha nesta área deixa claro que há uma luz no fim do túnel. Resta trabalho firme para que isso se concretize e as pessoas com algum tipo de deficiência não permaneçam, ainda mais, à margem do mercado de trabalho.
Felipe Lemos