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Cortina de fumaça


Por admin 28/07/2010 - 08h31
Márcio Basso

No dia 22 de julho o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia. Chávez disse ter tomado a medida “por dignidade” e acusou o presidente colombiano, Álvaro Uribe, de querer iniciar um conflito bélico.
A decisão foi tomada porque representantes colombianos na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, exibiram vídeos, mapas e fotos aéreas indicando a localização de acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em território venezuelano.
Segundo os diplomatas, a Venezuela protege os guerrilheiros há anos. Furioso, o embaixador venezuelano, Roy Chaderton, classificou as acusações de “mentirosas”, “parte de uma montagem”, um “circo para a imprensa”.
O interessante é que Chaderton reconheceu, um dia depois, que há guerrilheiros colombianos em território venezuelano, mas ressaltou que as Forças Armadas de seu país não apenas combatem os insurgentes, como os entregam às autoridades competentes.
É difícil avaliar o que está por trás das ações de Venezuela e Colômbia, mas algumas evidências podem ajudar a entender o conflito bilateral. A própria exibição do vídeo, incriminando o governo da Venezuela, pode ter caráter desestabilizador, já que o país está em clima de eleições.
Já o presidente Hugo Chávez, em seu desejo de liderar uma revolução bolivariana, ou socialista, não mede esforços para anular e guerrear contra quem não esteja de acordo com ele. Impõe rígido controle aos veículos de comunicação que o criticam, persegue opositores, pelo simples fato de serem opositores.
O coronel ainda compra, com petróleo, o favor de países pobres, apoia e faz aliança com ditadores, como os irmãos Castro, de Cuba, e o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Se isso fosse pouco, Chávez não considera as Farc como terroristas. Ele pede que as forças revolucionárias sejam tratadas como “grupo beligerante”.
Em 2008, após o exército colombiano matar o segundo na hierarquia da narcoguerrilha, Raúl Reyes, que estava em território equatoriano, Equador e Venezuela expulsaram seus representantes diplomáticos da Colômbia. O pretexto desta vez foi uma invasão territorial colombiana, que desrespeitou a soberania equatoriana.
Vias duvidosas
Em vez de se unirem contra as Farc, e outros inimigos comuns, Chávez e seus adeptos buscam vias duvidosas, populistas e espalhafatosas para defenderem suas revoluções. Os culpados, segundo eles, são a imprensa, o “Império” (leia-se Estados Unidos) e todo aquele que se opõe ao modelo neo-socialista.
Um acordo militar entre Colômbia e EUA, em 2009, também suscitou a ira de Chávez e seus simpatizantes. Por outro lado, a Colômbia míngua as forças das Farc e reforça a segurança no país. Álvaro Uribe entrega a presidência a Juan Manuel Santos, no dia 7 de agosto, com índice de aprovação na casa dos 70%.
A Venezuela está em crise há dois anos e projeções otimistas apontam para uma inflação anual na casa dos 30%. Dados oficiais mostram que os produtos agrícolas subiram 39,5% entre janeiro e junho. Na retrospectiva anual, os produtos do grupo aumentaram 67,2%.
O correspondente da CNTN em Carabobo, Alberto Guzmán, disse que o país vive um clima de medo e que a violência cresce a cada dia. 
Guzmán acredita que Chávez está promovendo uma “cortina de fumaça” para tirar o foco dos reais problemas. Prova disso, acredita, é a “abertura de microcrédito para os pobres, com o intuito de comprar votos”. Guzmán ainda destaca o perigo de se conceder crédito sem uma orientação prévia.  
O correspondente ressalta que as eleições se aproximam e que o partido vermelho, de Chávez, deve perder para os opositores azuis, que haviam se retirado da política como forma de fazer pressão moral. “A corrupção é terrível em todos os sentidos”, alerta.
O empresário argentino radicado na Venezuela, Carlos Martín, relata que necessita de fé para exercer o seu trabalho. Isso porque ele não sabe se encontrará os produtos necessários para abastecer sua empresa de panificação, tamanha é a instabilidade que o país vive.
Em mais uma de suas declarações “bombásticas”, Chávez disse, nesse domingo, 25 de julho, que “mais do que nunca, é provável um ataque militar da Colômbia contra a Venezuela”. O mandatário vociferou, em um ato político, que uma iminente guerra com o país vizinho o levou a “lamentavelmente” suspender uma viagem a Cuba.
Se a Venezuela realmente estivesse a ponto de ser invadida, não faria sentido o seu presidente, um tenente-coronel, estar fazendo política junto ao povo. 
Bem, uma das poucas certezas que se tem é que as eleições legislativas de setembro vão mostrar o que o povo venezuelano acha da necessidade de continuar dando apoio a um líder que, quando as coisas estão mal, acha sempre alguém para colocar a culpa, e “uma cortina de humo” para esconder as intenções. O bom é que setembro já está aí!
Márcio Basso é jornalista