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Lifestyle Letters: “Esclerose Sistêmica, Estilo de Vida e as Recomendações Atuais para seu Tratamento”

Manual da Boehringer Ingelheim:
Esclerose Sistêmica e Estado da Arte sobre Exercício Aeróbio e Resistido no Tratamento da Doença.

Vida e Saúde


Por vidaesaude 03/09/2020 - 10h47
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Autores: Leslie Andrews Portes e Natália Cristina de Oliveira

1. Introdução

No quinto Congresso Mundial de Esclerose Sistêmica, que ocorreu na cidade de Bordeaux, na França (fevereiro de 2018), tivemos a grata surpresa de tomar conhecimento do lançamento de dois manuais educativos elaborados pelo laboratório farmacêutico Boehringer Ingelheim.

São poucas as empresas desse ramo que dedicam esforços à educação dos pacientes, ainda mais quando se trata de uma doença rara, como é o caso da Esclerose Sistêmica.

Mais surpreendente ainda foi o fato de a Boehringer Ingelheim ter citado, como referência para um dos manuais (Managing lung problems in scleroderma), ao lado de autores tradicionalmente conhecidos e renomados, um recente artigo nosso (Oliveira et al., 2017).

O referido artigo foi escrito em parceria com três pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, e trata de uma revisão do tipo “estado da arte” acerca de pesquisas com exercícios aeróbios e resistidos como formas de tratamento e reabilitação de pacientes com Esclerose Sistêmica.

Por esta razão, neste número, trazemos uma breve resenha do artigo e do conteúdo dos manuais.

2. Esclerose Sistêmica

A Esclerose Sistêmica (ES) é parte de um grupo de doenças que afeta o tecido conjuntivo. Trata-se de uma doença rara, de etiologia desconhecida, caracterizada por autoimunidade, vasculopatia e fibrose.

É comum nesses pacientes observar espessamento da pele, calcinose subcutânea, inchaço nos dedos, telangiectasia (dilatação de vasos superficiais), esclerodactilia (extremidades dos dedos estreitas, pálidas e com esclerose), e fenômeno de Raynaud (vasoconstrição exacerbada das extremidades em resposta ao frio).

Todas essas manifestações, aliadas à dor, fadiga e dispneia, contribuem para a redução da qualidade de vida dos pacientes com ES.

Essa doença reumatológica tem prevalência de 70 a 340 pessoas por milhão, e incidência de 4 a 43 pessoas por milhão, sendo mais comum entre as mulheres.A ES é bastante debilitante e pode afetar também as articulações, músculos e órgãos vitais, como os pulmões, coração e rins.

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Artrite inflamatória, osteoporose, erosões e redução do espaço articular podem acometer os pacientes com ES, causando perdas funcionais. A inflamação muscular é outro fator que, quando presente, contribui para a redução da força e pode afetar as atividades do dia-a-dia dos pacientes.

O envolvimento pulmonar é uma complicação frequente da ES e lidera as causas de morbidade e mortalidade entre esses pacientes. Duas síndromes pulmonares principais estão associadas à ES: hipertensão arterial pulmonar e doença intersticial pulmonar.

Os pacientes com ES também podem apresentar danos ao miocárdio, fibrose do sistema de condução cardíaco e, com menor frequência, doença valvular.A crise renal da ES já foi a principal complicação e causa de morte entre os pacientes. O surgimento de fármacos mais eficientes mudou esse cenário há poucas décadas. Entretanto, ainda há muitos pacientes que não sobrevivem ao envolvimento renal da ES. O diagnóstico precoce e acesso ao tratamento são fatores essenciais para o gerenciamento das complicações causadas pela doença.

3. Influência do Estilo de Vida

A ES em si é considerada um fator de risco para a doença arterial coronariana. Somado a isso, outros fatores de Estilo de Vida podem impactar negativamente a vida do paciente com ES:

4. Tratamento

O tratamento medicamentoso da ES costuma focar as principais manifestações da doença: vasculopatia digital, hipertensão pulmonar, doença intersticial pulmonar, envolvimento gastrointestinal, crises renais e envolvimento da pele.

Ambos, a ES e seu tratamento, podem afetar negativamente o trabalho, o lazer e a vida familiar dos pacientes. Assim, o suporte social e psicológico também devem fazer parte do rol de terapias recomendadas.

Até pouco mais de uma década atrás, quase nada se havia estudado a respeito do uso do exercício físico como estratégia terapêutica na ES. Os primeiros estudos nessa área identificaram que os pacientes apresentavam baixa capacidade aeróbia e redução de força muscular. A seguir, começaram a surgir estudos de intervenção com pacientes com ES.

Os primeiros estudos envolveram aqueles com manifestações mais brandas da doença e, posteriormente, os pacientes mais graves foram submetidos a intervenções com exercício.

Apesar de a literatura ainda carecer de estudos sobre essa temática, o exercício regular é considerado uma importante terapia adjunta que contribui para a melhoria dos sintomas e do curso da doença.

A participação em programas de atividade física, incluindo educação sobre como conviver com a doença, deve ser encorajada e oferecida pelos profissionais da saúde.

5. Exercício Físico

São raros os relatos de efeitos adversos relacionados à participação de pacientes com ES em programas de exercício físico. Apesar disso, pelo fato de a hipertensão pulmonar ser comum nesses pacientes, alguns cuidados devem ser tomados (veja a seção “Precauções”).

A capacidade física e a qualidade de vida podem aumentar com a participação em programas de exercício aeróbio ou combinado com exercício resistido. 

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Apesar dos benefícios, os pacientes com doença intersticial pulmonar ou fibrose podem apresentar dispneia importante e dessaturação sanguínea ao esforço (redução da SpO2).

Essas importantes considerações apontam para a importância do cauteloso planejamento e da necessidade supervisão próxima dos pacientes com ES ao se exercitarem.

Pacientes com ES apresentam boa tolerância ao exercício aeróbio, que costuma ser eficaz para aumentar a capacidade aeróbia, mesmo em pacientes com algum grau de envolvimento pulmonar.A literatura ainda é escassa nessa área. Os poucos estudos que abordaram o exercício na ES geralmente incluíram poucos pacientes, e muitos não possuem grupo controle.

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A combinação de exercícios aeróbios e resistidos pode, além de aumentar a capacidade aeróbia, melhorar a força muscular, a funcionalidade, a composição corporal, e reduzir a fadiga e os fatores de risco cardiovascular.

6. Precauções

O monitoramento da pressão arterial e da frequência cardíaca deve ser feito durante todas as sessões de exercício. Especial atenção deve ser dada ao período de volta à calma, pois reduções bruscas no débito cardíaco podem levar à síncope nos pacientes com hipertensão pulmonar.

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Pacientes com hipertensão pulmonar grave devem participar apenas de atividades física de intensidade leve.

Nos pacientes sem envolvimento pulmonar, qualquer tipo de exercício aeróbio ou resistido, em intensidade moderada a alta, pode promover benefícios.

7. Conclusões

Os pacientes com ES aderem bem ao exercício, sem efeitos adversos importantes. Àqueles sem envolvimento pulmonar, deve-se recomendar que sejam ativos como a população em geral.

Em relação aos pacientes com ES e envolvimento pulmonar, desde que a condição não seja grave, tanto os exercícios aeróbios quanto os resistidos, supervisionados e individualizados, são recomendados.

É função dos profissionais de saúde informar aos pacientes sobre a importância de um Estilo de Vida saudável e ativo. É importante monitorar o nível de atividade física, a capacidade aeróbia e a força muscular, como parte da rotina anual de exames dos pacientes reumatológicos.

Para maiores esclarecimentos e informações adicionais, direcionadas à educação do paciente, recomendamos: www.morethanscleroderma.com.

Referências bibliográficas

Oliveira NC, Portes LA, Pettersson H, Alexanderson H, Boström C.  Aerobic and resistance exercise in systemic sclerosis: State of the art.  Musculoskeletal Care. 2017;15: 316-23.

Boehringer Ingelheim International GmbH. Managing lung problems in scleroderma. Germany, 2017.

Boehringer Ingelheim International GmbH. Understanding scleroderma. Germany, 2017.

www.morethanscleroderma.com.