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Salário mínimo do brasileiro deveria ser de R$ 5.350, diz Dieese

Instituto leva em conta a variação dos gastos com alimentação para chegar a este resultado.

Jornal NT Sul


Por Thays Silva 10/06/2021 - 16h31

Desde 1º de janeiro o salário mínimo vigente no Brasil é de R$ 1.100, com ganho de R$ 36,67 por dia trabalhado. Uma remuneração bem aquém do ganho ideal para o sustento básico de uma família, conforme sustenta a pesquisa mensal realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese.

O estudo calcula que, para o trabalhador assalariado, depois do desconto obrigatório de 7,5% para o INSS, somente com alimentação será gasta mais da metade do salário ganho: em média 54,84%. O que sobra é insuficiente para cobrir as demais despesas.

Das 17 cidades pesquisadas pelo Dieese entre os meses de abril e maio de 2021, 14 apresentaram aumento no valor médio da cesta básica de alimentos. Porto Alegre teve o valor mais alto: R$ 633,96. Foi a partir deste valor que o Dieese chegou a R$ 5.351,11 como salário mínimo ideal para o sustento de uma família de quatro pessoas: dois adultos e duas crianças.

O economista chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, Oscar Frank, não concorda plenamente com a metodologia utilizada pelo Dieese para chegar a projeção do salário ideal de aproximadamente R$ 5.300. Entretanto, ele admite que ela serve como parâmetro para contextualizar as dificuldades vivenciadas pelo mercado e pelo trabalhador.

“Apesar de eu ter uma visão um pouco crítica com relação à forma como o salário mínimo do Dieese é construído, não resta dúvida de que atualmente nós estamos observando sim uma deterioração significativa do poder de compra dos consumidores. Isso tem sido puxado principalmente pelo comportamento dos combustíveis e a energia elétrica, em função de toda a dificuldade que nós estamos tendo recentemente nos reservatórios. Então, é algo a se observar”, relata Oscar.

O economista explica ainda que o desemprego tem sido um fator determinante para a condição atual dos brasileiros. “Nós temos uma deterioração ainda muito forte no mercado de trabalho. O nível de ocupação, tanto no mercado de trabalho formal quanto informal, ainda está bem mais baixo do que antes da pandemia e, sem sombra de dúvidas, essa combinação entre desemprego elevado e preços em elevação é bastante nociva pra capacidade de consumo das famílias”.

Oscar diz ainda que um salário de R$ 5.300 seria prejudicial para a produção. “Esse é um valor que serve apenas como uma referência. Se todos os trabalhadores ganhassem R$ 5.300 nós simplesmente não teríamos produção. Até o próprio Dieese calcula que esse é um salário para sustentar uma família como um todo, ou seja, um provedor, o seu cônjuge e mais dois filhos. Então a gente precisa ponderar isso”.

Outra questão apontada pelo economista é que a produção de cada trabalhador é baixa e, por isso, a remuneração também é baixa.

“Nós temos sim um salário que acaba sendo insuficiente dentro de toda essa questão relativa à nossa baixa renda, que é uma realidade aqui dentro do Brasil, principalmente porque nós temos uma produtividade que é muito baixa. Nós produzimos muito pouco por trabalhador. E é por isso que o poder de compra desses salários acaba sendo tão baixo. É por isso também que nós ficamos tão suscetíveis a esses choques que acontecem lá de fora e que acabam reverberando sobre a nossa economia. Então, é uma questão que somente uma política benéfica, que acabe servindo para valorizar o emprego e a renda, vai realmente nos colocar em um outro patamar de crescimento”, finaliza.

Se parte da população tem dificuldade para viver somente com o salário mínimo de R$ 1.100 reais, outro tanto sobrevive com bem menos. Com dados de até setembro de 2020, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE revela que 1/3 da população brasileira tem renda mensal inferior a um salário mínimo. Situações e condições diversas que justificam o anseio dos trabalhadores em ter um salário mínimo mais elevado.

Pelas ruas de Cachoeira do Sul os relatos foram de que o atual salário não é suficiente para arcar com as despesas.

“Seria melhor mais de R$ 1.100”, disse uma entrevistada.

Outra disse: “Uma pessoa que paga o aluguel, água, luz e internet porque as crianças têm que ter aula online, faz mercado e farmácia… não, não cobre”.

“Esse salário é muito reduzido pra essa situação de inflação. Alimentação, principalmente, afetou muitas famílias mais pobres. O gás é outro exemplo. As coisas aumentaram muito e a defasagem do salário mínimo é grande”, disse outro cachoeirense.

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