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COVID: Luciane Pereira teve 90% do pulmão comprometido, mas sobreviveu

Ela ainda sofre as sequelas da doença, mas relata gratidão por estar viva e ter a família ao seu lado.

Jornal NT Sul


Por Thays Silva 09/06/2021 - 16h55

“Eu tenho um tremor que não passa, a minha visão ficou prejudicada. Eu caminho bem devagar ainda, mas em comparação com quando eu saí do hospital, eu melhorei 80% com a fisioterapia”. Este relato é da Luciane Pereira, vítima do coronavírus. Já recuperada, ela fala das suas limitações e conta que não consegue levantar muito os braços.

Luciane conta também de mais melhoras que tem tido. “Já consigo fazer coisas que eu não conseguia. Eu tomava banho sentada e alguém tinha que me levantar. Agora eu já consigo [ficar em pé]. Já tenho essa independência. Acho que eu me recuperei até muito rápido, mas ainda tenho minhas limitações”, explica.

Ela fala ainda de outras complicações das quais ainda está se recuperando: “O tremor me disseram que em torno de seis meses passa. Não consigo escrever direito. Eu trabalhava com móveis e fazia projeto em computador, [mas agora] não consigo. Fui pintar a unha, mas não tem como. Pinto em qualquer lugar, menos na unha”, explica.

Posição de pronação é recomendada pela Organização Mundial da Saúde para pacientes acometidos pela COVID-19

A Luciane ficou 23 dias na UTI. Lá, chegou a ficar na posição de pronação por 24 horas seguidas. A técnica é recomendada pela Organização Mundial da Saúde para pacientes acometidos pela doença. Ajuda a melhorar a troca gasosa e a oxigenação, facilitando a respiração, o que auxilia na minimização das complicações pulmonares decorrentes da COVID.

Luciane internou no Hospital de Caridade e Beneficência no dia 7 de abril e recebeu alta dia 7 de maio. Ela conta como foi a experiência nesse período de internação.

“Como a gente está sedada, eu não senti nada. [Tive] muito sonho, muito delírio, que eu acho que foi quando passou a sedação. Depois, os três dias que eu passei acordada pareceram 20 dias”.

Ela relata que precisava se comunicar por gestos com os profissionais do hospital, já que não podia falar. Ela ficou 23 dias intubada e depois fez traqueostomia.

“Quando eu fiz a traqueostomia, já não precisei mais de oxigênio. Já comecei a saturar bem e só melhorei. Eu tive pneumonia bacteriana, tive outra bactéria, muita diarreia, que os médicos não conseguiam controlar. Quando eles me estabilizaram, tive uma surpresa. Começaram a juntar as minhas coisas e me levaram pro quarto. Quando vi, a minha irmã já estava me esperando. Foi uma surpresa”.

Questionada sobre a corrente de oração que era feita pelos amigos dela, Luciane diz que não tinha ideia do que estava acontecendo. “Eu só fui sentir isso quando comecei a ver os vídeos. Porque quando tu acorda, tu tem a sensação de estar abandonada. Era eu e Deus porque eu não parava de rezar um minuto pedindo pra Ele me ajudar porque eu queria sobreviver. E, quando eu comecei a receber vídeos, eu passei mal, fiquei muito nervosa porque não tinha noção do que estava acontecendo fora. É muito triste o que a gente passa. Não foi fácil. Eu venci”, conta.

Emocionada, Naira Pereira, irmã de Luciane, conta do medo que sentia de perder a irmã e relata a felicidade de ver que tudo deu certo. “Valeu toda a oração, foi uma corrente muito bonita. Fiz muitas amizades também e hoje ela está aí.

Nara fortaleceu a fé em Deus ao pedir orações pela irmã.

Segundo Naira, a situação de Luciane era tão grave que os médicos não chegaram a dar esperanças para ela. O momento difícil ajudou Naira a ter fé em Deus. “Eu aprendi a confiar em Deus porque eu não era muito [de confiar]. Ela sabe. Eu aprendi com ela, agora. Tinha muito o pé atrás com a minha confiança, mas hoje isso mudou totalmente. A gente vê que [Deus] existe”.

Antes de ser intubada, Luciane escreveu uma carta para o marido com recomendações. Otimista e muito confiante, imaginava que ficaria no máximo 3 dias internada.

“Na carta eu não me despedi porque não achei que fosse morrer. Não achei que fosse tão grave, que era 90% do pulmão comprometido. Eu imaginei que iria ficar três dias e iria acordar. Daí, escrevi uma carta dizendo: cuida da Giovanna, cuida do teu pai, da tua mãe, da minha irmã pra ela não se desesperar porque eu conheço e sei que ela vai ficar desesperada, cuida da casa, dos gatos, dos cães. E aproveita o teu aniversário que eu vou voltar’. Ele disse que, quando recebeu a sacolinha com as minhas roupas, se desesperou, mas isso [a carta] deu forças pra ele”.

Nas redes sociais, dezenas de mensagens de pessoas de vários lugares. Todas desejando melhoras para a Luciane. “A gente não tem noção do quanto a gente é querido e de quantas pessoas se preocupam com a gente. Foi muito linda a corrente de orações”, diz.

Perguntada sobre o que pensa de ver pessoas ainda sem cuidado em relação à COVID, Luciane diz que sente frustração. “Quando começou, eu trabalhava em uma empresa que foi a primeira a fechar as portas. O tempo todo eu dizia: ‘não quero pegar, vamos nos cuidar’. As pessoas dizem ‘vamos fazer aquela visitinha’, ‘vamos fazer aniversário do fulano’. Nisso aí a pessoa pega [o vírus]. As pessoas não têm noção do quanto essa doença é cruel. Eu não tinha comorbidade nenhuma. Eu quase morri. Sobrevivi por questão de horas. Mais um pouquinho e talvez eu não tivesse sobrevivido e não ia criar a minha filha”.

“Eu vejo as coisas na internet e fico revoltada, mas não vale a pena discutir. Eu faço o meu trabalho de formiguinha. Para as pessoas que eu posso, compartilho alguma coisa. Mas, é muita frustração de ver que as pessoas não têm noção. Tem gente morrendo todo dia e as pessoas continuam andando sem máscara”, completa.

Luciane ainda apela para que as pessoas se cuidem independentemente da idade. “Olha quantas pessoas da minha faixa etária partiram. Não são só os idosos que estão morrendo. Tem gente de 23, de 32… eu com 45 poderia ter morrido”.

Apesar de ter sobrevivido, ela conta que se sente triste por saber que outras pessoas estão vivendo o que ela passou.

“Quando eu saí do hospital, não consegui comemorar, bater palmas, fazer festa na frente do hospital. Porque, quando eu saí da UTI, uma moça foi pro meu lugar e ela tinha dois filhos. Duas crianças pequenas. A gente que é mãe fica assim… ‘meu Deus’. Eu estou saindo feliz, mas tem outra pessoa que está indo pro meu lugar. Eu sou muito agradecida, estou muito feliz por estar viva, mas com o coração partido por saber que tem tanta gente lá”.

Gente internada e sendo cuidada por gente que até esqueceu o que é um domingo em família, sem saber o que é passar horas fazendo nada em casa. Pessoas que emendam plantões, estão com férias atrasadas e só estão preocupadas em salvar vidas: os profissionais da saúde.

Esta é uma luta contra um inimigo invisível que, por pouco, não levou a Luciane a óbito. Ela, que tomava todos os cuidados e respeitava o isolamento social.

“O meu sogro largava as coisas no portão. Quando a gente viu que começaram a aumentar os casos, eu fiquei em casa por causa da minha pequena. Ela fica com a minha sogra e, eles têm comorbidades. Ele [o sogro] tinha tomado as duas doses da vacina. A minha sogra não. Então, a gente optou por eu ficar em casa e não ver mais eles”.

Luciane e o marido tiveram coronavírus. A filha também apresentou sintomas.

O marido da Luciane também teve coronavírus. Ela não sabe como eles contraíram a doença, mas foi o marido a primeira pessoa a apresentar os sintomas. Ele se sentiu mal no trabalho e foi à UPA para fazer o teste. Antes mesmo de receber o resultado, Luciane também foi fazer o teste, pois começou a ter os sintomas. Ele não precisou ficar internado e ficou cuidando da filha, que manifestou apenas dor na garganta. Agora a Lu tá em casa pertinho dos animais, da Giovanna e de toda a família.

Luciane fala das marcas que ficaram da doença: “O meu coração cresceu. Aparece no raio X. Eu não tinha comorbidade nenhuma. Agora eu tenho”.

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